segunda-feira, 8 de junho de 2009

Lido à segundos

«Eu amo-te!», gritei.
«O que é que isso tem de extraordinário? Diz-me!»
«Eu amo-te como nunca ninguém amou ninguém!»
«Porque é que há-de ser assim?», respondeste, beijando-me pela primeira vez. Eu estava tão tenso, não dei por nada, queria que se abrisse um buraco no chão e me engolisse. Mas tu estavas calma, como se estivesses habituada.
«Para ti pode não ser extraordinário, mas, para mim, é!»
«Cala-te», disseste, «Sabes lá se eu gosto de ti também…»

Gosto! Foi o que disseste. Foi «gostar» o verbo que empregaste. E eu não tive coragem de fugir de ti naquele momento e explicar-te que como tu gostavas de mim, eu gostava de ananás, de sair à noite, de comprar azulejos nos antiquários.

(...)

Tenho saudades de ti. Mas não me custa sofrê-las, comparado ao que sofria quando estavas aqui comigo, deitada no meu ombro, a sonhar os teus sonhos, agarrada a mim, o meu amor, o meu amor a arder-me no coração, deitando fogo ao meu sossego, tanto era o amor que te tinha, e o terror e a certeza de perder-te.


Miguel Esteves Cardoso,
in O Amor é Fodido.

1 comentário:

  1. Vi agora este blog e nao resisti...
    Amo tanto este livro!!!
    (In)felizmente sempre que o compro ofereço!:p

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